Ele começou a murmurar. Aproximei-me mais. Ele contava, em latim. Olhou para mim.
— Vinte e sete mil... dólares?
Acenei, afirmativamente.
— Estão numa conta em nosso nome, na firma do meu amigo em Wall Street.
Os olhos do Abade esbugalharam-se.
— Então era isso que ele queria dizer!
— Ele, quem?
— O Deepak Chopra. Era aí que o nosso dinheiro estava no momento! — sorriu.
Nunca esquecerei aquele sorriso.
— O que está a dizer? — disse eu, nervosamente. — Foi Deus quem me mostrou o caminho, não foi o Deepak Chopra, M.D.. Estava na oração do meio-dia de hoje. A história dos porcos de Gadar. No nosso próprio breviário, e não nesse livro pateta que atirou para a lareira.
— A lareira! — guinchou o Abade. Saltou da cama e correu para fora da cela antes que eu o pudesse segurar.
— O livro! — gritou. — O livro!
Correu para o calefactório, chocando com o Irmão Felix e o irmão Bob, e começou a espalhar freneticamente as cinzas na lareira.
— O livro! Onde está o livro?
— Porque quer o livro, Abade? — perguntou o Irmão Felix.
— Aquele livro salvou o nosso mosteiro!
O Irmão Felix sussurrou-me:
— Nós recuperámos o livro. Achámos que poderia ajudar o médico no seu diagnóstico.
O Abade continuava a espalhar as cinzas no linóleo.
— É melhor dar-lho. — disse eu.
O livro estava chamuscado e um pouco queimado nos cantos. A capa estava ligeiramente diferente:
«... AR RIQUEZA»
— Aqui está, Irmão Abade. — disse o Irmão Felix, entregando-lhe o livro.
O abade pegou nele, cuidadosamente, como se fosse um pergaminho do Mar Morto. Sentou-se e, suavemente, abriu o livro numa página que parecia reconhecer. Leu em voz alta:
— «Para conseguir riqueza, você tem que formar a intenção. O universo encarrega-se dos pormenores, organiza e orquestra as oportunidades.»
Levantei o meu breviário.
— Mas foi este livro que me trouxe a inspiração.
— E quem o enviou nessa missão? — retorquiu o Abade. — Eu tive a intenção de que você produzisse dinheiro. E o universo encarregou-se dos pormenores.
Foi inútil discutir com ele. Levou o livro de regresso à cela. Uma grande mudança havia transformado o Abade, ainda que nessa altura nenhum de nós tivesse noção exacta do quanto. Mas no íntimo eu já sabia que as nossas vidas não voltariam a ser iguais, pois, nesse dia, Deus tinha-se revelado como nosso corretor. Ao lado do telefone da garagem de Clark tinha aprendido a Primeira Lei do Desenvolvimento Espiritual e Financeiro:
I. Se Deus telefonar, atenda a chamada
Irmão Ty é a alcunha de um monge da Ordem de São Tadeu no norte do estado de Nova Iorque. Antes de se tornar monge, era um corretor em várias proeminentes casas de corretagem de Wall Street. Na preparação deste livro, foi assistido por Christopher Buckley e John Tierney, ambos fiéis devotos das Sete Leis e Meia®.