A nossa natureza essencialmente imperfeita e aberta à transformação surge nas palavras de Albert Camus, o filósofo que escreveu O Mito de Sísifo: “Se existe uma alma,” escreveu ele, “não devemos acreditar que ela nos é dada no seu estado definitivo. É neste mundo que a criamos, ao longo de toda a nossa vida. Na verdade, a vida resume-se a um longo e doloroso parto da alma.” A alma, recorrendo a uma comparação algo rude, não é como a lâmpada que podemos ligar no interruptor; assemelha-se mais a uma fogueira intensa que temos de continuar a alimentar. Tentarei explicar o que significa, para mim, a construção da alma, e em que medida podemos aprender as aptidões que lhe estão subjacentes. Mas espero que o leitor compreenda que falar sobre a alma não é tarefa fácil; é provavelmente impossível definir a alma, cuja natureza é tão multiforme e sistematicamente fugidia. Não podemos capturar a sua essência numa imagem ou definição, quaisquer que elas sejam. Isto deve-se, na minha opinião, ao facto de a alma não ter essência e não ser a imagem de nada; aquilo a que chamamos alma é, em si mesmo, o inventor da essência e da imagem, assim como é o revelador da existência. |